sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Uma aventura bem brasileira

Histórias que o povo conta:

Hoje, bela sexta – feira de dia quente , céu azul e tremores de terra.... estava eu passando pela rua quando encontro minha querida Paula. Ela então me perguntou se não tínhamos combinado de almoçar juntos hoje. 


Eu confesso que tinha esquecido, mas como já estava ali, por que não? Eu disse então que iria até a minha casa pegar o dinheiro e já poderíamos ir comer. Para poupar tempo e disposição ela me disse que tinha dinheiro na bolsa que pagaria e depois eu repunha. Eu disse que o almoço custaria como 7 mil pesitos.

Paula e eu fomos almoçar num bom restaurante perto da UPB que tem uma cobertura laranja na fachada e onde a comida é boa , bonita e barata. Só que quando chegamos lá em busca de nosso ‘corrientazo’, havia uma fila gigantesca que então me fez perguntar a Paula : ‘Oiga y qué será que están dando?’.


Cansados, despenteados e com fome, eu disse a Paula que perto dali havia outro restaurante que parecia igualmente ser bom. Como bons cariocas que somos dissemos em plena sintonia: ‘partiu’. E lá fomos nós. Eu não conhecia a comida desse restaurante, só o conhecia de vista, mas parecia ser simples, só parecia.

1º susto: Assim que entrei percebi que era um restaurante italiano, veio então um senhor branco, gordinho , típico italiano , apontou o dedo para mim e gritou: ‘Germany!’ , eu meio assustado respondi : ‘ No, Brazil’, e pensei ‘... por que será que estamos falando inglês num restaurante italiano num país de língua espanhola?’. Enfim, o senhor abriu os braços , deu um largo sorriso e gritou pela segunda vez : ‘ahhhh, Brasileee, mio amico’.  Entre sorrisos, Paula e eu nos acomodamos numa mesa bem arejada.

Trouxeram os cardápios, e foi então quando veio ...
2º susto: O preço das comidas. Gente o que é isso? A Itália está em crise mesmo! O prato mais barato era 16.500! Isso são duas vezes meu amado ‘corrientazo’.Bom, mas já havíamos entrado, sentado , o jeito era comer. Paula correu para contar o dinheiro que ela tinha na bolsa, depois de buscar em todos os bolsos e contar até as moedas, ela tinha como 42.500. 


Depois de conferir o saldo disponível, foi o momento de ver o mais barato e pedir dois , o mais barato era lasanha , 16.500 x 2 = 33,000. OK, dá para comer, mas calma, nos restaurantes costuma-se ter a gorjeta incluída, bom, uma gorjeta não é mais que 9 mil pesos, né? Doce ilusão. Decidíamos que não pediríamos nada para beber, porque desestabilizaria nosso orçamento minucioso. Se alguém perguntasse iríamos dizer que no Brasil não se costuma beber enquanto se come.  


Enquanto esperávamos, nos trouxeram uns pãezinhos de Santo Antônio, esses duros que dão nas igrejas para colocarmos nas latas de mantimento para termos alimento por todo o ano. 


Pensei: ‘opa, será que isso é uma indução a comprar algo para beber? Por isso que trouxeram esse pão duro e seco?’. Calma, muita calma nessa hora, não iríamos cair nessa ‘trampita de satanás’.


A comida demorou como 20 minutos para chegar, se eu soubesse que demoraria tanto, teria ido até minha casa buscar mais dinheiro para mostrar ao italiano que o Brasil está com uma melhor economia.

Finalmente chegou o prato, com uma boa aparência, eu não perdi tempo e mergulhei meus pãezinhos no molho da lasanha. A lasanha realmente estava muito boa, tanto a minha quanto a da Paula...mas no ar ainda estava um suspense de ‘será que teremos dinheiro para pagar a conta’. Comemos, fofocamos, rimos de uma mulher que estava comendo com babador e no final Paula pediu a conta com seu movimento internacional de autografar no ar.

O grande momento chegou, veio a conta ... 44.200.  Eu pensei então ‘ ay marica, estamos perdidos!’. 


Para quem não é bom em matemática como eu, tínhamos 42.500 e a conta deu 44.200 = ou seja, faltaria 1,700 pesitos. Paula mergulha na sua bolsa em busca de algumas moedas, eu estava sem nenhum pesito. O desespero rondava em nossas cabeças. Eu sugeri dizer que estávamos no país há pouco tempo e não sabíamos contar bem o dinheiro. Paula, como é mais direta disse que chamaria o italiano e diria que não tínhamos o dinheiro completo, mas que depois poderíamos voltar e trazer o que faltava.

Depois de tantas discussões e alternativas cogitadas, decidimos, colocar as notas e moedas dentro da pasta da conta e sair sorrindo e acenando como os pinguins de Madagascar. 

Damos calote, mas não perdemos a pose. 


Já estávamos na saída, descendo as escadas quando o italiano me agarrou pelo braço, eu pensei: ‘Jesus, nos descobriram’, já estava pronto para gritar ‘ Corre Paula’, mas então percebi que o italiano só queria saber como dizer ‘ grazie’ em português. Uff que alívio, lhe ensinei então a falar ‘muito obrigado’ e sai aliviado e de barriga cheia.

A Paula me convenceu que não demos calote, porque a conta deu 32.000 o resto era imposto e gorjeta, então pagamos pelo que comemos. Depois do susto, viemos para casa rindo como duas hienas assistindo filme de comédia, pensando que eu deveria ter dito que sim era alemão, pois assim não passaríamos a ideia de que os brasileiros comem e não pagam a conta por completo.


domingo, 19 de janeiro de 2014

Au Au Au Vamos pra Capital! Bogotá - Parte I

Noite feliz, noite feliz... ops já acabou o natal né? Ah que pena. É uma época tão boa, celebramos o nascimento de Cristo ...



... vivemos a magia dos presentes criada pela Coca Cola e seus ursos polares ...



... as comidas típicas...



... as reuniões em família... um sem fim de alegria. Esse ano foi o segundo natal que eu passei fora do Brasil, os alunos sempre perguntam se é muito diferente o natal na Colômbia comparado com o Brasil. E simmmmm, é muito diferente, pra começar no Brasil não temos ‘villancicos’ como o burrito sabanero...



... nossas canções são um pouco dramáticas e geralmente é uma versão de outra música como ‘noite feliz’ que vem de ‘oh holy night’ e a já gasta ‘então é natal’ versão de ‘ Happy Xmas’ do Jhon Lennon. 



Sem falar que os colombianos são extremamente familiares e acho que no Brasil esse espírito familiar é menor um pouco até porque nossas famílias estão diminuindo bastante e aqui ainda há famílias com 14 tios, 90 primos... muita gente meu povo! O natal em Medellín é muito divertido com os passeios noturnos de bicicleta todo mundo vestido de pijama, todo mundo lhe convidando para as novenas e os aguinaldos, os ônibus, táxis e tudo mais colocam músicas natalinas, as casas são enfeitadas. 

E há a mistura buñuelo & natilla. 



Gente, quem foi que criou essa mistura? Eu acho bem louco, cada um separado até que vai, uma vez ao ano, mas juntos? Enfim... não queiramos indagar a tradição haha. Meu Deus faltou o melhor: os alumbrados!!!!!!! 



As luzes que colocam no rio são tão lindas e a cada ano mudam o tema. Esse ano esteve espetacular, o rio todo iluminado como se fosse o céu de Hogwarts um verdadeiro show de luzes! 

Falando em show de luzes, me lembra uma aventura bem louca que tive nesse natal na Capital Bogotá. Esse será nosso tema de hoje, au au vamos pra capital!



Na verdade essa viagem aconteceu um pouco antes do natal, eu já pensava em ir a Bogotá para conhecer bem há muito tempo, porque sempre que estive foi entre aeroporto e não dá pra conhecer nada pela falta de tempo. Agora então finalmente eu puder voltar e conhecer, não tudo, mas o que eu mais queria sim. Sempre falta algo para conhecer , concordam? Bom, mas primeiro vejamos o que conheci e depois o que faltou.

Essa viagem foi bem planejada e muito tranquila, com seus momentos fortes, mas tranquila graças a Deus. Eu decidi ir de ônibus. Primeiro porque tenho verdadeiro pânico do céu aéreo de Bogotá que está sempre recheado de turbulências prontas para arrancar do seu estômago o pão que você comeu no café da manhã. E segundo porque queria conhecer como é o transporte interestadual por aqui, como sempre usei esse tipo de transporte no Brasil e gosto, decidi verificar como era por aqui também.

Daniel mais uma vez entra em ação para me ajudar com tudo, inclusive ele foi junto na viagem. Como sempre um mês antes eu saí perguntando para os amigos que conhecem como é a viagem e procurando hotel e passagem. Tudo foi muito fácil, pois estamos falando nada mais, nada menos que da Capital do país.  Me disseram que a viagem a Bogotá era muito tranquila, que as vias de Cundinamarca são muito boas e o ônibus era excelente.  Fiquei animado.

Há muitas empresas que prestam o serviço Medellín – Bogotá mas há duas que são , segundo minhas pesquisas, ótimas: Expreso Bolivariano e Expreso Brasilia (conheço esse nome de algum lugar XD ).  Dando uma olhada no site das duas empresas e nos ônibus, o Expreso Bolivariano se destaca por muitos motivos. Eu gostei da ideia de ter internet no ônibus e carregador para aparelhos eletrônicos, tela de dvd em cada cadeira com várias opções de músicas e filmes. Que cuca! Não? Pois é. 



Assim como para Jardin, foi possível comprar as passagens por internet e mais reservar os lugares. Tivemos que adaptar os dias da viagem de acordo com a disponibilidade do ônibus, pensando que são como 8 horas de viagem , com a hospedagem na quantidade de quantas noites seriam reservadas... enfim muitas coisas. Uma viagem não é apenas pegar o ônibus e pé na estrada.  Mas não compramos as passagens assim de cara, tivemos que procurar hotéis , hostels e tudo mais para poder saber se encaixava uma coisa com a outra.

Nessa questão eu pedi ajuda a alguns amiguinhos que moram em Bogotá. O meu amigo mais solicitado foi o Saul Gutierrez, ele é um amigo paisa que mora em Bogotá por questões de trabalho. Ele me ajudou muito respondendo a todas as minhas milhares de perguntas que vocês já conhecem... Ele deve ter rido muito quando perguntei se de Bogotá a Zipaquirá havia morros e precipícios. Ele sempre tão educado me disse que não, pois essa região se encontrava na meseta de alguma coisa, não me lembro o nome era algo indígena.

Depois de tantas perguntas, encontramos um hostel que parecia muito bonito nas fotos, com um bom preço levando em consideração a época e o lugar. Queríamos algo central. Pois todos os nossos atrativos estavam ali no centro, os museus, as igrejas... Encontramos o hostel Bella Vista no bairro da Candelária. 



Todo bairro no centro se chama Candelária? Pensei na Candelária do Rio recheada com lindos exemplos arquitetônicos. Vamos ficar nessa Candelária mesmo. A viagem duraria como uma semana contando com o deslocamento sairíamos pela noite de Medellín para chegar bem cedinho a Bogotá e aproveitar o dia e a diária do hostel claro.  Como bom profissional de turismo sei usar bem o tempo para aproveitar todos os melhores atrativos. 

Chegou o dia! Na verdade a noite, pois sairíamos pela noite, para ser mais específico às 22h30. Uma das melhores coisas de Medellín é a mobilidade com o metrô. 



Saí da minha casa, peguei o metroplus na estação Rosales, fui até a estação hospital do metrô e já até a estação que fica perto da rodoviária. Simples e rápido. Confesso que fiquei assustado com a quantidade de pessoas que estavam ali, claro que por causa do natal, mas muitas pessoas, e o mais engraçado é que as pessoas levam pacotes incrivelmente grandes, como se fossem geladeiras, televisões, o que eu mais vi era batata, legumes em geral. Não sei por que as pessoas viajam com esses legumes, talvez para levar para as famílias. E eu fiquei pensando: “será que não existe limite de peso por pessoa?”. 

Outro ponto engraçado que percebi é que quando pedem para fazer uma fila para verificar as passagens, as pessoas saem correndo como se fosse a entrada para o céu quem chegar primeiro entra. E outra vez eu pensei: “Mi gente ( como diz o Marc Anthony ) o ônibus tem as cadeiras numeradas, seja o primeiro ou não da fila, todos vão embarcar.”. Ahhhhhhh se pudessem ler minha mente! O povo me mataria.



Bom, mas não deveria me preocupar com isso, porque meu ônibus era bem equipado com tudo do bom e do melhor como diz meu pai, e já estávamos embarcando. Eu estava bem ansioso e animado porque já tinha sentido o ar condicionado e visto as cadeiras e as telas de dvd : a viagem prometia. 



Fui logo procurando onde estava a senha da internet porque queria estar em contato com o mundo durante a viagem e claro registrando tudo. 



Antes de o ônibus sair, veio um funcionário, deu as boas – vindas, explicou tudo e passou a senha da internet. Eu testei, mas nada de funcionar! Isso sempre é assim, seja no aeroporto, rodoviária, nunca funciona o bendito wi – fi, deveria se chamar wi -fu*%k¨.



Enfim, não vamos arrumar confusão por isso. Assim que o ônibus saiu, eu tirei meu tênis. Essa parte é bem triste. Eu comprei um tênis como duas semanas antes da viagem. Um tênis muito legal, eu o experimentei na loja e tudo, mas deixaria para estrear na viagem. Que pobreza! Da minha casa até a estação do metroplus o tênis me deixou com apenas 8 dedos no pé, pois 2 ele destruiu completamente. Como? Eu não sei, pois o experimentei na loja tantas vezes e agora ele resolveu ser mau comigo ==’.

E eu levei apenas um tênis, não levei mala, apenas mochila, por causa da mobilidade em uma cidade tão grande e por questões de segurança. O mal é que também não levei bermudas, porque é um clima mais frio e eu não iria passear em plena zona política de bermuda né? Ok que sou do Rio de Janeiro, mas não sou louco. Se eu tivesse levado bermuda, poderia comprar um chinelo e usá-lo com bermuda, e aí não morreria de dor nos meus pés, mas sem bermuda não há chinelo, como vou andar de calça jeans e chinelo? Impossível. No final, passei todos os dias subindo e descendo as ladeiras da candelária como a Dona Florinda do Chaves quando cai um ferro de passar no seu pé.



Voltemos ao ônibus, ainda estávamos em Medellín subindo pela estrada Medellín – Bogotá. Eu gosto muito dessa estrada, pois proporciona uma bonita vista da cidade.



O motorista estava numa velocidade razoável para o tipo de estrada. Enquanto o ônibus subia eu fui fuçar nos arquivos de áudio e vídeo para ver o que tinha de bom para poder me distrair durante as 8 horas de viagem. Na parte de áudio tinha um terabyte de músicas de todos os tipos, muito vallenato , cumbia, merengue, reggaeton, músicas em inglês tipo tecno... muita coisa boa, principalmente Carlos Vives que é muuuuuuito legal. Eu gosto muito do tipo de música que ele faz, uma mistura de música folclórica, com vallenato e pop, o resultado é muito bom.

Sei que muita gente vai morrer com minha declaração, mas eu gosto de alguns reggaetons. Esse ritmo sofre o mesmo preconceito que o funk no Brasil, dizem que é música de pobre, favelado, que fala baixarias, o ritmo é sempre o mesmo, fala mal das mulheres... o fato é que o funk e acredito que o reggaeton são ritmos para dançar, não para ficar estudando ou meditando, há gente que o faz, mas não é esse o objetivo principal. 

O fato é que eu gosto e que na playlist do ônibus estavam meus favoritos: Maluma, J Balvin e Daddy Yankee. Depois de verificar toda a playlist de áudio, passei para a de vídeo. A coisa estava muito boa ai! Filmes excelentes, e recém-lançados, era muito filme bom para as 8 horas de viagem \o/. Meus favoritos também estavam ali: Harry Potter, Código da Vinci e Anjos e Demônios que são versões cinematográficas dos maravilhosos livros do Dan Brown. Falando em livro só quando cheguei à estação de metrô percebi que tinha esquecido o livro que tinha separado e estava lendo para a viagem.



Bom, mas agora eu estava com os filmes, como a viagem já tinha começado por que não começar também a ver os filmes? O primeiro: Anjos e Demônios. Me acomodei bem com meus pezinhos livres da escravidão consumista de novos tênis, coloquei os fones e comecei a ver o filme, embora já o tivesse visto umas 50 vezes em 3 idiomas. Minha mãe sempre diz: ‘ Não sei por que assiste isso se já sabe até as falas dos personagens’. Hehe. Eu também não sei, mas o faço.

O filme passou, olhei pela janela para ver onde estávamos, mas não consegui identificar nenhum lugar conhecido. O jeito é ver outro filme, vi que havia o ‘This is It’ do Michael Jackson, eu não o assisti, portanto dei play. O filme é quase um documentário né? Não achei muita graça, assisti só as partes das músicas.  Quando acabou parti para o X- men. Gente, falando em x – men eu não sei de onde tiraram tantas histórias para tantos filmes. Esse ano estreia outro né?



Quando terminou X –men já contabilizávamos umas 4,5 de viagem, o ônibus então começou a diminuir a velocidade. Será que vamos parar? Me haviam dito que a parada é num lugar muito quente, eu então verifiquei o ar condicionado. Estava bem potente.  O lugar da parada era muito feio, com muita lama e pouca iluminação, mas ali se encontravam muitos ônibus de todas as origens e destinos. Eu gosto de viajar de estômago vazio, porque ir ao banheiro do ônibus é como entrar em uma lavadora de roupas ligada. Então sempre levo uma maçã, que é minha fruta favorita. O Daniel levou sanduíche de queijo e presunto e aproveitamos para comer, já que metade da viagem praticamente estava feita.

Algumas pessoas desceram, eu não quis descer porque o lugar era feio e eu não precisava esticar minhas perninhas, pois a prática de viagens na faculdade me ajudou muito em viagens terrestres. Daniel desceu para comprar suco e trident que ajuda na limpeza dos dentes já que não dá para escová-los na viagem e ajuda a passar o tempo também.



Graças a Deus não demoramos na parada. E outra coisa boa era que o caminho era todo plano ( até ali ). Passamos por uma ponte de ferro bem grande que estava por cima de um rio muito maior que a ponte. Os rios da Colômbia são muuuuito bonitos porque são bem largos e caudalosos. O motorista acelerou um pouco e eu passei para a parte de áudio do ônibus. Comecei pelo Carlos Vives. Pela minha favorita: gota fria. Gosto muito de cantar as músicas dele e imitar o sotaque costeño.



Depois de uma hora e meia e de ter acabado com todas as músicas do Carlos e passado ao Daddy Yankee, o clima começou a mudar. E a estrada também. Os vidros do ônibus começaram a embaçar, ficou frio e começamos a subir. Eu comecei a ficar nervoso, porque o motorista aumentou a velocidade e eram curvas muito fechadas de dupla via, foi então quando olhei pela janela e vi que estávamos realmente subindo muito, pois já nos encontrávamos a uma altura razoável. Fiquei com medo, não pude mais ouvir música nem fazer nada só prestar atenção no caminho que estava cheio de névoa.

Esse tormento demorou como 40 minutos. Não sei como as pessoas podem dormir em viagens sem ver o que o motorista está fazendo. Seja a viagem que for eu sempre vou acordado, pra ficar de olho em tudo que está acontecendo. Depois que parou de subir, continuei com medo, pois estávamos bem alto, e o que mais me surpreendeu é que não estávamos mais em Antioquia, já tínhamos entrado em solo de Cundinamarca e a estrada não estava tão boa assim, sempre me disseram que as estradas de Cundinamarca eram boas, mas acho que se esqueceram dessa parte. O bom é que havia uma obra logo em frente, então o ônibus teve que diminuir a velocidade e parar.

Bom, não havia muito que fazer a não ser sofrer e esperar que passasse rápido. 



Graças a Deus o céu já estava clareando. Sim, estávamos alto, mas já começava a descer e a estrada a melhorar. Eu pensei: “Uff já estamos chegando a Bogotá”. Erro fatal, estávamos bem distantes ainda, pois desde esse ponto até realmente ver a placa ‘ bem – vindo a Bogotá ‘ demorou como 3 horas, ou seja, para quem é bom em matemática sabe que essa viagem não durou 8 horas, foi algo como 10. Quando chegamos a uma parte chamada ‘Los Alpes’ nos deparamos com um engarrafamento digno de São Paulo.



Demoramos aí como 40 minutos, havia acontecido um acidente. Sim, eu já começava a ficar cansado e ansioso. Não queria mais ver filmes, nem ouvir música, só chegar.  Com certeza minha cara estava amassada e meu cabelo como o da esposa do Simpson. 



Começamos a subir outra vez fazendo jus ao nome do lugar ‘alpes’. Depois a descer e enfim apareceu uma placa ‘ bem – vindo a Bogotá’.



Mas espera aí, isso é Bogotá? Parece mais Bello. A entrada de Bogotá não é nada parecida com o que eu imaginava, mas pensei: ‘ calma que estamos só chegando’. Já na entrada fomos recebidos gentilmente pelo típico engarrafamento. Ali ficamos por outros 40 minutos até chegar realmente à rodoviária. Ao menos já tínhamos chegado! Agora é procurar saber como chegar à Candelária. 

Foi fácil , pois já sabíamos o ônibus que tínhamos que tomar.  Para quem acha que os ônibus de Medellín são péssimos, os de Bogotá são piores, são quase todos pequenininhos e velhos. Que pena com a população, é a capital meu povo.

Pensando pelo lado positivo, eles não dirigem tão rápido como o coonatra, e graças a Deus e a todos os santos, as ruas são retas, sem as lomas desgracentas do Poblado. Assim que chegamos fomos testar a fama dos bogotanos de não dar informação, perguntamos a um guarda comum e corrente onde ficava o posto de gasolina, pois ali era a referência do ponto de ônibus, o guarda não sabia, deveria ser novo na região. Mas fomos caminhando e encontramos o local. Uma esquina , esperamos passar o ônibus com a referência, entramos e fomos. .. fomos mesmo porque durou como meia hora para chegar até a estação Las Aguas do Transmilênio e sem trânsito.  

Uma coisa boa é que pelo caminho já fui vendo mais a cidade, tudo normal, os bairros, as ruas bem longas. Fiquei feliz quando chegamos à estação, porque já estava bem cansado. Achar a candelária não foi difícil, um guarda dessa vez soube dizer onde era ,no caminho deu para ver Monserrate, muito alto para minha pobre pessoa medrosa. 



Seguimos em direção ao bairro, um pouco vazio, mas com casas muito bonitas. O Daniel, que é historiador disse que esse bairro foi muito importante no início da cidade, era um bairro de classe alta. Deu para ver pelas casas tão bonitas e grandes.

Nosso hostel ficava no Chorro de Quevedo, eu sei um nome engraçado né? Nos faz lembrar daquele padre famoso no Brasil...  



Subimos algumas ruas, pois o barro fica numa subida...



... demos umas duas voltas, eu já estava ficando sem paciência, então o Daniel avistou o nosso hostel . Que fica realmente na rua da foto de cima. Pequeno ‘parênteses’, para quem não conhece o Chorro de Quevedo...



... é uma área cultural, onde realizam shows, eventos culturais e tudo mais, são ruazinhas estreitas com lojas estranhas e mais estranhas ainda as pessoas que ali frequentam. A cada passo que eu dava me ofereciam droga.  Bom, mas isso acontece aqui , no Brasil, China ou Paris. O fato é que eu não gostei desse bairro. Não é o tipo de lugar que estou acostumado a frequentar. Para sair à noite para comer alguma coisa era um tormento, porque fica muito cheio dessas pessoas. Só depois que descobri que é um bairro boêmio e frequentado por todos os estrangeiros. Nada contra meu povo, mas não faz meu tipo o bairro.

Voltando, estávamos entrando ao hostel. Uma casa gigantesca decorada à la antiga. Os responsáveis pelo hostel? Um senhor e uma senhora incrivelmente gentis! Extremamente simpáticos e amáveis. Durante toda nossa estadia, nos perguntavam se faltava alguma coisa, nos ajudaram com direções... tudo! É um hostel muito recomendado, as pessoas ali são tranquilas, tem um ambiente familiar e de muito amor. Fizemos o check – in e é muito engraçado que agora na parte ‘origem’ eu coloco ‘Medellín’ e não ‘ Rio de Janeiro ‘ . Já me acostumei. Mas é claro que as pessoas sempre percebem que eu não sou colombiano, o senhor me perguntou se vinha de outro país.

Após o check – in, fomos para o quarto, que era igualmente gigante.



Nesse quarto com certeza caberia como 8 pessoas. Com um piso de cerâmica, bem frio, um banheiro rústico com banheira, duas camas grandes e uma decoração old style. Muito bonito. Fiquei muito feliz com o quarto e o hostel.

A ideia era tomar banho, trocar de roupa e ir conhecer um pouco o lugar afinal ainda estávamos pelo início da manhã. Não demoramos muito com todo o processo de banho e troca de roupa e já saímos para procurar conhecer o centro, ou ao menos uma parte do centro. Começamos então a explorar as ruas da candelária em direção à Plaza Bolívar.

Algumas casas preservam bem suas fachadas, outras sofreram com a ação do tempo ou de depredadores, mas eu gostei muito de todas. 







Imaginem que esse é um conjunto residencial, um edifício tão bonito , eu pensei que fosse uma igreja ou um monastério, mas na frente diz que é um conjunto habitacional. Ao menos está bem preservado. 







Vale destacar que muitas dessas casas são considerados Bens de Interesse Cultural, dá pra ver então a importância do local.




No meio do caminho, não, não havia uma pedra, e sim uma coincidência turística. Nós tínhamos um guia turístico que minha querida amiga Marcelinha Calle me deu...



... mas como não conhecemos as ruas tão profundamente acabamos nos deparando com atrativos que queríamos conhecer, por exemplo, o Museo del Arte del Banco de La Republica que fica num complexo que engloba também o Museo Botero e a Casa de La Moneda.

Primeiro o Museo del Arte, é um espaço grande com muitas salas de diversas exposições que são divididas em 5 categorias:







Nessa parte você leva como 1h30 minutos recorrendo todas as cinco salas e analisando bem as obras de arte que nelas estão. Eu gostei muito dos quadros de representação religiosa, que são meus favoritos. O legal aqui é que você pode tirar foto, desde que não use o flash.




Depois de olhar todas as salas, você passa por um corredor e chega pela direita à Casa de La Moneda. 





Igualmente com muitas salas que descrevem toda a história monetária da Colômbia. É muito interessante ver os tamanhos , as cores e formatos. O percurso nessa sala demora como 50 minutos.

A sala mais legal vem em seguida que traz um acervo religioso lindíssimo. Essa fiz questão de fotografar bem. Igualmente não leva muito tempo para ver toda a coleção dessa sala.








A próxima e última visita é no Museo Botero. Atravessamos um pátio muito bonito com a tradicional fonte e o jardim, e chegamos ao Museo Botero de Bogotá. 






É um espaço menor comparado com a coleção Botero do Museo de Antioquia, mas igualmente muito bonita. Pra ser sincero eu gostei mais do espaço em si...





... porque as obras do Botero ainda que muito representativas e originais, convenhamos que são quase sempre as mesmas. Não demoramos muito ali, porque já estava ficando na hora do almoço e a barriga já começava a roncar.

A questão era, onde comer? Pelo que tínhamos passado só tínhamos visto comidas rápidas, e depois de uma viagem tão longa, eu queria um prato de comida de verdade. 30 minutos buscando por toda a Candelária e nada! A fome já apertava, eu me lembrei de que tinha uma cartela completa de cupons para comer no Burguer King, entramos na internet e o mais próximo era na Javeriana, do outro lado do mundo.

No calor do desespero, vimos um presto e aí entramos, comemos hambúrguer com batata frita. Eu sei! Não era o que eu queria, mas fazer o que? Era o que tínhamos no momento. Eu fiquei meio triste por não encontrar um restaurante do tipo que encontramos em qualquer esquina em Medellín, como o que tem na esquina da entrada da UPB, eu gosto muito de comer ali. Não me lembro do nome exato do restaurante, mas tem uma capa laranja.

Após encher a barriga fomos dar uma olhadinha nas lindas igrejas que ficam por perto. As igrejas são muito bonitas e em uma mesma rua você pode encontrar mais de três exemplos. Enquanto víamos essa igreja encontrei milagrosamente com meu amigo Saul, imagina uma cidade gigantesca e eu dou a sorte de encontrar um amigo. Conversamos um pouco, eu e Daniel entramos na igreja e ficamos admirando a beleza do altar e de toda a decoração.




Quando saímos da igreja nos deparamos logo na nossa frente com o Museo Del Oro, outro de nossos atrativos principais. Já estávamos pelo meio da tarde. Não sabíamos quanto tempo levaríamos ali, mas decidimos entrar.



O ingresso é bem barato e é possível tirar foto, como sempre, sem flash. Desde o início eu achei essa iniciativa muito legal, porque no Brasil você paga caríssimo por um museu ou uma igreja e não pode tirar foto de jeito nenhum. Por exemplo, Ouro Preto em Minas Gerais, você paga quase 7 reais para entrar em uma igreja que não é possível tirar foto de nada.

Eu não sei quantos andares tem realmente o Museo del Oro, acho que 5, o primeiro mostra como que os índios encontravam e trabalhavam o ouro assim como a sua representação diante de suas crenças.  Dá pra ver que todas as peças são bem antigas, o legal também é que tudo é muito bem sinalizado. Gente, eu sei que os espanhóis levaram bastante ouro colombiano, mas sobrou muito hein? Vou te dizer, o acervo do museu deve ser o maior do mundo nesse tema de objetos indígenas feitos com ouro.











Depois de subir 3 andares, eu fiquei completamente morto de cansaço. Meus pés doíam mais do que tudo por causa do tênis e da viagem, porque se vocês bem se lembram , esse ainda é o dia em que chegamos de viagem a Bogotá. Eu aguentei o quanto pude, mas não deu mais, eu estava morrendo de sono , sentei e disse para o Daniel ir ver os outros dois últimos andares. Ele não demorou, graças a Deus ou eu dormiria no banco do museu . Nunca me senti tão cansado. Agora quando for a Bogotá necessito ir ao Museo del Oro visitar a última parte da exposição. É um museu muito legal que eu recomendo bastante.

Bom, hora de voltar para casa. Descemos pelo elevador, agradecemos na saída e demos de cara com ... a rua claro, mas ela não estava sozinha, estava acompanhada de chuva! Mas calma pessoal, estamos em Bogotá, e chuva aqui é como arepa em medellin, tem todos os dias. 

Para nossa sorte, estava fraca, então fomos caminhando porque o museu estava relativamente perto da Candelaria. Aproveitamos as marquises do caminho. E chegamos a entrada da Candelaria, como boa lei de Murphy quando estávamos chegando a chuva ficou intensa. Ai não faltava tão pouquinho... E vimos que todos os bogotanos tinham um guarda – chuva na mão. 


Acho que isso ajuda a diferenciar quem é turista ou não. Passou um senhor vendendo um guarda – chuva, mas pelo amor dos Piratas do caribe, 10 mil uma sombrinha vagabunda, e 20 mil do tipo dessas que vendem no êxito amarelas. Muito caro!  Não comprei, a chuva diminuiu e fomos correndo , uns 5 minutos até chegar ao Chorro e ao nosso hostel. Já estava bem tarde.




Fui logo exorcizando meu pé e arrancando esses tênis loucos dos meus pezinhos agradecidos. Coloquei a água para esquentar na banheira, pois logo colocaria ali meus pezinhos esperando que eles voltassem ao normal. Depois de umas duas horas com meus pés na água quente eles estavam melhores.



Má noticia, tínhamos que procurar alguma coisa para jantar, ou seja, que eu teria que colocar meus benditos tênis outra vez: meus pés gritaram, mas não havia o que fazer a não ser colocá-los. Perguntamos na recepção onde havia um bom restaurante para comer, era longe. Dessa vez quem gritou foi eu! Nos disseram então que havia como uma pizzaria logo abaixo, é pra lá que eu vou!

Ficava bem na entrada da Candelária, mas foi muita consideração chamar de pizzaria... enfim, a pizza era gigante e o vendedor queria que levássemos a pizza toda até que estava barata, dava como 16 pedaços grandes e custava 38 mil. Mas precisávamos apenas de 4 pedaços, dois para o Daniel e dois para mim.  O vendedor colocou para esquentar num forno a lenha, e em poucos minutos estava pronto. Compramos um Sprite, era a única coisa que tinha, eu digo a única porque detesto coca cola, então sobrou Sprite.

Levamos para  o hostel, não vou dizer que era a melhor pizza, mas eu gostei bastante porque tinha bastante recheio, e eu gosto muito de pizza com bastante recheio e não só massa. Só para registrar a melhor pizza é do restaurante Opera Pizza na 70 com alguma outra rua que não sei o número. Vale a pena conhecer!



Eu comprei um pedaço de pizza mexicana, e realmente era mexicana porque a pimenta quase me matou. Mas acho que não foi uma boa ideia comer algo tão gorduroso às 9 da noite. Minha barriga ficou  mais pesada que a gordita de Botero. Mas com o cansaço que tinha, da viagem dos museus e das subidas à candelaria, não pensei mais em nada, nem na pizza, nem nas gorditas, só em dormir e descansar para o segundo dia que prometia.

to be continued ...